terça-feira, 3 de abril de 2012

Como anda o uso e abuso da tomografia na clínica odontológica?

Muitos dos desafios de diagnóstico que estão normalmente presentes na prática clínica podem ser esclarecidos por meio de por exames imaginológicos. Até recentemente os cirurgiões-dentistas estavam limitados ao uso de imagens bidimensionais para a avaliação da anatomia tridimensional, o que oferecia limitações inerentes à técnica como sobreposição de estruturas, distorção, ampliação e conseqüente insuficiência de informações para uma interpretação mais precisa e fiel das estruturas anatômicas.
Sendo assim, esforços foram realizados no sentido da obtenção de imagens seccionais das estruturas dento-maxilares. Inicialmente, essa tentativa foi realizada a partir das primeiras técnicas de tomografia convencional e, posteriormente, com o processo evolutivo da tecnologia digital, um número cada vez maior de métodos de diagnóstico por imagem vem sendo disponibilizados.
Um grande marco desse processo evolutivo foi realizado por Godfrey Hounsfield que em 1972 anunciou a invenção da Tomografia Computadorizada (TC), uma técnica revolucionária de imagem que era capaz de produzir imagens axiais seccionais de uma região anatômica desejada, associado a sistemas de computação.
Porém, nada foi tão significativo para a Odontologia do que o surgimento da Tomografia Computadorizada Volumétrica (TCV), também denominada de tomografia computadorizada de feixe cônico ou cone-beam, que foi desenvolvida por Yoshinori Arai a partir da tomografia convencional e de adaptações da TC.
A TC é constituída por um pórtico rotatório, onde de localizam uma fonte de radiação X e um anel de detectores de cintilação. Um feixe de raios X com formato de um leque realiza um movimento de rotação espiral ou helicoidal ao redor do paciente, sensibilizando os detectores localizados ao redor do pórtico (Figura 1). Na maioria dos aparelhos modernos, os detectores estão dispostos em fileiras paralelas, permitindo que até 64 cortes sejam obtidos simultaneamente com cada rotação. Isso reduz consideravelmente o tempo de varredura desses aparelhos com relação aos equipamentos de gerações anteriores, que realizavam a aquisição de um corte único por rotação.
Em contrapartida, a TCV utiliza um feixe de raios X de formato cônico com aspecto retangular ou arredondado, direcionado para a região de interesse do paciente, por exemplo, a maxila, e em seguida sensibiliza uma matriz bidimensional de detectores de imagem (Figura 2). A técnica realiza apenas uma única varredura de 360 graus, de forma que a fonte de raios X e o detector se movam em sincronia ao redor da cabeça do paciente, que permanece estabilizado no suporte de cabeça. Dependendo do tipo de equipamento, o tempo de varredura varia de 5 a 40 segundos, dependendo do protocolo escolhido5. 
A fonte de raios X emite um feixe divergente de baixa miliamperagem. O tamanho do feixe é limitado por um colimador circular ou retangular correspondente ao tamanho do sensor, mas em alguns casos pode ficar restrito (colimado) para coincidir com a região anatômica de interesse.
Durante a rotação, uma fonte de radiação pulsátil ou contínua gera múltiplas imagens seqüenciais bidimensionais da região de interesse, denominadas imagens “base”, que variam de cerca de 150 a 599 projeções1. Essas imagens são similares a radiografias cefalométricas laterais, cada uma obtida por uma angulação ligeiramente diferente da outra. Essa série de imagens forma um conjunto dados. Programas de computação que utilizam algoritmos sofisticados são aplicados para gerar um conjunto de dados tridimensional volumétrico, que é utilizado para fornecer reconstruções primárias nos três planos ortogonais (axial, sagital e coronal), bem como imagens em 3-D. A região irradiada apresenta formato cilíndrico ou esférico, dependendo do detector da imagem.
A maioria dos equipamentos de TCV oferece a opção de seleção do campo de visão (Field of View - FOV) do exame. A seleção de um FOV menor reduz a área de varredura do exame, o que diminui a dose de radiação recebida pelo paciente. Atualmente, aparelhos de TCV são capazes de captar diferentes extensões da região maxilo-facial, como maxila, mandíbula, complexo maxilo-facial ou toda a face (Figura 3). Alguns equipamentos foram desenvolvidos para realizar a captura de pequenas regiões com alta resolução de imagem, como, por exemplo, o PREXION 3D ELITE.
A princípio, a TCV oferece imagens nos mesmos planos anatômicos que a TC, limitada apenas a visualização de tecidos duros. O contorno dos tecidos moles da face pode ser visualizado embora qualquer alteração presente em seu interior possa ficar despercebida. As vantagens da TCV em relação à TC incluem menor dose de radiação recebida pelo paciente e maior detalhe de avaliação do tecido duro. Além disso, os equipamentos de TCV são mais baratos e apresentam dimensões menores, podendo ser instalados em consultórios odontológicos. Apesar de tanto a TCV quanto a TC produzirem artefatos de imagem causados por componentes metálicos, seus efeitos causam menor interferência nas imagens de TCV.
As imagens da TCV apresentam boa aplicação para avaliação da região crânio-facial, em especial para avaliar tecido ósseo e tecidos duros do órgão dental. Como esses equipamentos foram projetados para essa região, ao contrario da TC, os softwares foram desenvolvidos para simplificar a obtenção de imagens, utilizando parâmetros pré-estabelecidos. Além disso, a maioria foi desenvolvida para trabalhar com softwares específicos de planejamento de implantes, como SimPlant (Materialise, Leuven, Bélgica) e da Nobel Biocare (Suécia).

Referências:
                Chilvarquer I, Hayek JE, Azevedo B. Tomografia: seus avanços e aplicações na odontologia. Rev Assoc Bras Radiol 2008;9:3-9; Hatcher DC. Operational principles for cone-beam computed tomography. J Am Dent Assoc 2010;141 (suppl 10):3S-6S; Patel N. Integrating three-dimensional digital technologies for comprehensive implant dentistry. J Am Dent Assoc 2010;141 (suppl 6):20S-24S.

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